Pedro foi um dos discípulos mais próximos de Jesus, além de Tiago e João.
Quando escreveu essa carta, Pedro estava na cidade de Roma, chamada de Babilônia (I Pe 5.13).
Ele estava vivendo os últimos anos de sua vida; pouco depois de ter escrito essa carta, ele sofreu o martírio, sendo preso, torturado e crucificado por causa da sua fé em Jesus.
Contam os historiadores que Pedro morreu durante o reinado do imperador Nero, tendo sido crucificado de cabeça para baixo por se julgar indigno de morrer do mesmo modo que Jesus.
Assim, ao lermos essa carta, precisamos ter a consciência de duas realidades acerca do seu autor:
- Primeiro, ter em mente que o seu autor era alguém que havia conhecido a Jesus, andado com Ele e se dedicado inteiramente ao Reino de Deus.
- Segundo, saber que Pedro não a escreveu nos primeiros anos de sua vida; ele tinha uma vasta experiência pastoral e sabia como era a vida e quais as lutas do cristão.
Segundo o que lemos em I Pe 1.1, Pedro escreveu essa carta aos cristãos que estavam vivendo na dispersão. Há algum debate em torno dos destinatários dessa carta: alguns afirmam que eles eram judeus que haviam sido expulsos de suas respectivas cidades por causa de perseguições; outros entendem que são os cristãos de um modo geral, tanto judeus como gentios, que têm a consciência de que são peregrinos e forasteiros nessa terra, e que rumam para a sua verdadeira pátria, a cidade celestial. Mas essa discussão em torno dos verdadeiros destinatários da carta não muda a mensagem que Pedro pretendia passar aos seus leitores. Sem dúvida, o sofrimento do cristão é uma das ênfases dessa carta de Pedro.
Pedro estava preocupado com as pessoas que estavam quase abandonando a fé por causa do sofrimento. Essas pessoas estavam sendo tentadas a viver não como cristãos, mas como pagãos. Por isso Pedro escreve essa carta para encorajar os cristãos a darem genuíno testemunho de sua fé em meio ao sofrimento. Os versículos que lemos acima podem ser considerados um resumo da mensagem dessa carta.
I – Pedro diz que o sofrimento pode ser usado pelo diabo contra o cristão.Pedro não está dizendo que o sofrimento é um mal em si mesmo,
- que só irá trazer prejuízo ao cristão
- e que o diabo e seus demônios só olham para o cristão quando este está sofrendo, mas que o diabo pode usar uma situação de sofrimento para devorar o cristão incauto.
- O cristão precisa saber que quando está vivendo uma situação de sofrimento ele é mais intensamente vigiado por Satanás, porque ele sabe que o cristão é mais frágil nessas situações. E à medida que o diabo vai observando, ele também vai rugindo, mostrando seu intento de atacar e devorar o cristão que está mais fraco.
O leão não é um animal que ruge o tempo todo. Existem alguns momentos específicos em que ele ruge; um desses momentos é o da caça. Quando ele vai caçar, ruge para afugentar as presas, notando qual é o animal mais fraco do rebanho.
- Ele nunca vai atacar o animal mais forte e saudável; isso lhe traria cansaço e talvez até mesmo a frustração por não conseguir alcançar esse animal.
- Ele sempre ataca o animal mais fraco do rebanho. Mas veja bem: os rugidos não têm o objetivo de assustar, mas de provocar reações nos cristãos.
Esse rugido pode ser, por exemplo, um sussurro nos ouvidos de um cristão que trabalha em uma certa empresa, convidando-o a furtar algum dinheiro.
- Se esse cristão reagir de modo contrário ao primeiro rugido, o diabo irá, de modo mais sistemático e intenso, sussurrar-lhe outras palavras: a empresa é rica; a quantia é pequena; ninguém notará a falta do dinheiro; ele está precisando; a despensa de casa está vazia, as contas irão vencer, a luz será cortada; a esposa irá ficar triste.
- O cristão que está mais fragilizado é alguém com muito maior probabilidade de ceder às tentações do diabo. O objetivo final do diabo é destruir (devorar) o cristão. Não podemos pensar que essa destruição vai acontecer repentinamente, mas será um processo que vai levando o cristão a uma destruição gradual e definitiva, quando ele deixa de agir como cristão e passa a viver os padrões estabelecidos pelo mundo.
Pedro sabia dessa astúcia do diabo por experiência própria.
- Ele mesmo foi peneirado por Satanás naquela sua noite de sofrimento, quando Jesus foi preso. Por isso, Pedro alerta os cristãos a não abandonarem a fé por causa do sofrimento; por detrás disso, Satanás está agindo, procurando afastar as pessoas de Deus. Contudo, as artimanhas e ciladas de Satanás não são a única razão para que os cristãos não abandonem a fé por causa do sofrimento. Pedro apresenta uma outras razões.
II – O sofrimento é uma realidade natural de todos os cristãos.
É o que Pedro busca mostrar. Todo aquele que é cristão certamente vai passar por momentos de sofrimento aqui nessa terra. Ao escrever essa carta, Pedro diz aos seus destinatários que “sofrimentos iguais aos deles estão se cumprindo na vida de outros cristãos espalhados por todo o mundo”.
Essa aflição não é casual; ela acontece porque os cristãos, com suas vidas, são uma afronta tanto para este mundo mal quanto para o príncipe deste mundo. Por serem testemunhas de Cristo contra este mundo de pecado, os cristãos sofrem oposição e perseguição.
Em I Pe 2.11,12 Pedro exorta os cristãos a suportarem os sofrimentos decorrentes das calúnias que vinham sofrendo dos gentios.
Eles estavam sendo injustamente acusados de praticar o mal e prejudicar outras pessoas. A realidade vivida pelos cristãos dos tempos de Pedro não é diferente da vivida pelos cristãos de hoje. Eles podem estar agindo corretamente e andando dentro da lei, mas serão sempre perseguidos.
Contudo, os cristãos não devem dar espaço às paixões carnais, respondendo aos gentios com ira, animosidade, imprudência ou maldade; antes, devem suportar todas as afrontas fazendo o bem àqueles que os acusam injustamente.
Mas o sofrimento que vem aos cristãos não é apenas decorrente de calúnias. Pedro cita ainda, em I Pe 2.18-20, o sofrimento que vem através da autoridade que é inimiga de Deus: “(...) é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus.” (versículo 19) Sem dúvida há sofrimentos físicos e emocionais para os cristãos pelo simples fato de serem cristãos. É verdade que aqui nós não sofremos a mesma perseguição que acontece, por exemplo, na China. Lá, ainda hoje, os cristãos são torturados tanto física como emocionalmente. E a palavra de Pedro para essas pessoas, da mesma forma, não é rebelião, mas que fechem os seus ouvidos para os rugidos do diabo, suprimam os desejos da carne e se lembrem do exemplo de Cristo, que “(...) não cometeu pecado e nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente, carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados.” (I Pe 2.22-24)
III – O sofrimento não está oculto aos olhos de Deus
Os cristãos não devem imaginar que Deus está alheio ao seu sofrimento.
Deus não somente o vê, como também faz com que esse sofrimento redunde em benefícios para o seu povo.
Mas, primeiramente, os cristãos precisam ter a consciência de que são escolhidos de Deus, chamados em Cristo Jesus para viverem eternamente com Deus.
Aconteça o que acontecer, ele continua sendo filho de Deus – a sua filiação não está associada às bênçãos que recebe, à bonança em que vive ou à ausência de dificuldades, mas à convicção de que ele jamais deixará de ser amado por Deus.
A promessa de Deus é que o sofrimento do cristão durará pouco tempo.
Como disse o salmista no Salmo 30.5: “Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã.” Para o cristão, existe sempre:
- a certeza da luz depois da escuridão,
- do amanhecer depois de uma noite,
- da alegria depois da tristeza.
- Além disso, apenas o cristão pode ter a certeza de que seu sofrimento nunca é infrutífero.
- Pedro afirma que o cristão, depois de ter sofrido por um pouco, será aperfeiçoado, firmado, fortificado e fundamentado.
- Deus irá usar o sofrimento como um meio para trabalhar a vida do cristão, tornando-o cada vez mais parecido com Jesus e menos agarrado às coisas desse mundo.
Por isso, diante de todo o sofrimento, dificuldades e aflições, o cristão pode com convicção dizer, juntamente com o salmista: “Por que você está abatida, ó minha alma? Por que você se perturba dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.” (Sl 42.5)